Aconteceu na última semana o Demo Day, apresentação de startups a investidores, promovida semestralmente pela aceleradora de startups Y Combinator. Também na última semana, a Universidade Stanford lançou seu 2023 AI Index Report. O pitch dos empreendedores e o relatório de 386 páginas mostram ângulos diferentes do mesmo cenário: menos dinheiro no mercado (por causa da alta global dos juros), e otimismo com as oportunidades abertas pela inteligência artificial.
Das quase 300 startups escolhidas para o Demo Day, cerca de 60 são baseadas em inteligência artificial generativa (AGI, no termo em inglês). Cerca de 50% dos empreendedores foram aceitos sem ter um produto pronto no mercado: apenas pela ideia. “Ouvimos muitas histórias de empresas que pivotaram duas ou três semanas atrás, quando os plugins de ChatGPT começaram a surgir”, contam Noah Edelman e Pete Huang, jornalistas do The Neuron convidados para o evento.
O relatório da Universidade Stanford (resumido aqui em 14 infográficos) retrata os dois lados dessa aparente contradição entre menos dinheiro e otimismo.
O investimento em startups de IA em 2022 (US$ 92 bilhões) é o segundo maior da série histórica. Mas caiu pela primeira vez: 23%, em relação a 2021.
Ao mesmo tempo, a capacidade da inteligência artificial cresceu de maneira desproporcional. Em 2019, a OpenAI gastou US$ 50 mil para treinar o GPT-2, com 1,5 bilhão de parâmetros. Em 2022, o Google gastou 160 vezes mais dinheiro para treinar o PaLM – mas ele tem 540 bilhões de parâmetros – 360 vezes mais. Com tamanha capacidade de processamento e novos plugins surgindo diariamente, grátis ou perto disso, qualquer empreendedor pode capturar para si ganhos de eficiência exponenciais.
Diretora da Y Combinator, Stephanie Simon, faz um paralelo com o começo da década passada. “Há menos dinheiro de investidores e consumidores, e isso cria um ótimo cenário para começar uma startup”, diz. “Não é coincidência que duas de nossas principais investidas, Airbnb e Stripe, começaram nas profundezas da recessão de 2009”. Naquela época o dinheiro ficou escasso, mas uma nova tecnologia – o smartphone – abriu uma avenida para a inovação. Hoje, o mundo tem 6,9 bilhões de aparelhos, e startups que apostaram neles cresceram junto.